Para que
possamos compreender, de fato, os conflitos gerados entre teorias e estudos
culturais é essencial e necessário expor alguns recortes históricos:
Os anos 1960 foram uma época de
extensos tumultos sociais que desafiavam as formas estabelecidas de sociedades
e cultura, produzindo novas contraculturas. Geraram uma era de intensas
“guerras culturais” entre liberais, conservadores e radicais. Já nos anos 1970
com a recessão econômica aflora o pós-guerra apresenta o discurso da
reorganização, da economia e do Estado.
Entretanto, nos anos 1980, essa
organização deu-se pelos governos conservadores, retalhando programas sociais,
aumentando déficit das contas públicas dentre outras ações. Depois da segunda
guerra mundial, os países capitalistas e comunistas competiam pela geometria
econômica, política e social. A derrubada do muro de Berlim, a queda do Império
Comunista Soviético e a dissolução final da própria União Soviética resultou
uma pseudo era de paz e estabilidade.
Na última década, surgiram novas tecnologias
e com elas ocorreram mudanças nos padrões de vida como também a reestruturação
do trabalho e do lazer. Com as novas tecnologias do computador, substituíram
muitos empregos e criaram outros, oferecendo novas formas de acesso à
informação e a comunicação entre pessoas. A mídia da informação tem efeitos
divergentes, por um lado, proporciona a diversidade de escolha, possibilidade
da autonomia cultural, e maiores aberturas para intervenções de outras culturas
e ideias. Vale lembrar que o fenômeno histórico – cultura da mídia é recente
por Horkheimer e Adorno nos anos 1940, constituídos pelos seguintes veículos de
comunicação: cinema, rádio, TV dentre outros. Com esse tipo de cultura
dominante (cultura de mídia) suas formas visuais e verbais estão suplantando as
formas da cultura livresca para ser decodificada por outros conhecimentos. Esse
tipo de cultura caracterizou uma força dominante de socialização. As mudanças
políticas sociais e culturais ao longo do tempo foram acompanhadas pela proliferação
de novas teorias e métodos para entender a cultura e a sociedade contemporânea.
Já nos anos 1950 os teóricos sociais proclamaram surgimento de novas sociedades
pós-industriais o conhecimento e a informação seria o princípio essencial da
organização dessa sociedade.
Durante os anos 1970, surgiram
postulados de que a modernidade estava acabada, de que estávamos numa nova era
– pós-modernidade (Baudrillard, 1976 e Lyotard, 1984). Segundo alguns teóricos
do pós-modernismo argumentavam de que a sociedade contemporânea com suas novas
tecnologias, forma de cultura, experiência do presente, constituem uma ruptura
decisiva em relação às formas modernas de vida. A sociedade “pós-Fordista” representa
regime de acumulação e caracterizado pela produção e pelo consumo de massa
regulamentada pela estatal e por uma cultura de massa homogenia substituída por
regimes mais flexíveis de acumulação.Portanto, a sociedade e a cultura
contemporâneas estão no estado de mudanças. É travada guerras culturais entre
conservadores liberais e progressistas em que os conservadores tentam impedir
os avanços dos anos 1960 e impor valores e forma de cultura mais tradicionais.
Nos anos 1990, os conservadores dos
Estados Unidos continuam opondo-se ferozmente aos liberais, agora estão no poder
depois das eleições de Bil Clinton de 1992. Os filmes de Hollywood atacam com
freqüência as mulheres e o feminismo, predominando o discurso machista e a paranoia
masculina e branca “evidenciando” em todos os meios culturais. Essas guerras
ocorreram em toda Europa. Na Grã-Bretanha (ataque aos conservadores do governo)
na França.
A turbulência teórica ocorreu nos
anos 1960, na França, na qual surgiram novos discursos sobre a mesma, a teoria
pós-estruturalista, rejeitando as teorias estruturalistas (Semiótica, Psicanálise
e outras). No pós-estruturalismo emerge novas teorias da linguagem, do sujeito,
da política e da cultura. Nesse período marcou-se a chamada “Guerras entre
Teorias”.
Nos Estados Unidos, nos anos 50 e
início de 60, marcam o marxismo e o feminismo. Vale lembrar que as experiências
da guerra do Vietnã nos anos 60, muitas pessoas da Nova Esquerda e do movimento
antibelicista para teoria marxista. Devemos refletir sobre tais mudanças. Será
que foi o acaso? O feminismo também fez parte dos novos discursos teóricos em
todo mundo. Por meio de movimentos radicais, as mulheres começaram a
revoltar-se contra aquela que consideravam práticas opressivas das sociedades
patriarcais contemporâneas. A primeira manifestação clássica de feminismo dos
anos de 1960, foi a obra de Simone de Beauvoir - O segundo sexo. Também há uma
gama de discursos femininos a partir da psicanálise contra os discursos
masculinos. Grupos marginalizados procuram fazer-se ouvir, surgem nos Estados
Unidos novos discursos e estudos das minorias negras, indígenas, hispânicos,
asiáticos etc. Os estudos em torno da homossexualidade masculina e feminina
problematizaram a sexualidade e apresentaram novas perspectivas sobre sexo,
cultura e sociedade. Teóricos oriundos de países subdesenvolvidos produziram e
fomentaram discursos atacando a colonização ocidental.
Nos anos 70, as explosões das
teorias continuaram, deu-se uma nova globalização teórica. Os teóricos do
Terceiro Mundo e dos Estados Unidos apropriavam-se dos discursos europeus. A retórica
nesse contexto histórico deu-se em torno da raça, classe, etnia, preferências
sexuais e nacionalidades. Para que servem as teorias? Segundo o autor elas
elucidam as realidades sociais e ajudam os indivíduos a entender seu mundo
utilizando-se de conceitos, imagens, símbolos, argumentos e narrativas. A
metateoria (teoria sobre teoria) contemporânea nota que as mesma usam
componentes históricos e literários para explicar a nossa vida. A teoria social
dialética estabelece nexos entre as partes isoladas da sociedade, por exemplo, como
a economia se insere nos processos da cultura da mídia. A teoria crítica da
sociedade pode utilizar o conceito de articulação para indicar de que modo
vários componentes sociais se organizam na produção. O conceito de articulação
foi introduzido por estudos britânicos e tornou-se fundamental para sua prática
(esse conceito é abordado pelos autores: Hall, Grossberg e Jameson).
As sociedades contemporâneas
demandam constantes mapeamentos ou remapeamentos devido á intensidade das
mudanças e velocidade das transformações sociais em curso. O teste de uma
teoria consiste em seu uso,desenvolvimento e seus efeitos. Quanto às abordagens
aos estudos culturais mencionamos a metateoria e os modelos da teoria social e
da crítica cultural que foi influenciada pela Escola de Frankfurt, pelos
estudos culturais britânicos e pela teoria pós-moderna/pós-estruturalista.
Baseada nos moldes dessa escola, a mesma disseminou estudos críticos de comunicação
e de cultura de massa. Como também desenvolveu o primeiro modelo de estudo
cultural.
Entretanto, há muitas outras
tradições e muitos modelos de estudo cultural que vão desde os neomarxistas,
desenvolvidos por Lukács, Gramsci, Bloch e a Escola de Frankfurt nos anos de
1930 até os feministas e psicanalíticos. Vale ressaltar que na Grã-Bretanha e
nos Estados Unidos prevaleceu uma antiga tradição que precedeu a escola de
Birmingnghan. As principais tradições de estudos culturais dialogam com as
seguintes áreas do conhecimento: teoria social, análise cultural, história,
filosofia e intervenções políticas específicas. São exemplos das abordagens
realizadas na Escola de Frankfurt as análises da música popular desenvolvidas
por Adorno, os estudos de Lowenthal sobre a literatura popular e revistas,os
estudos de Herzog sobre as novelas de rádio e as perspectivas e crítica das
culturas de massa desenvolvidas no estudo de Horkheimer e Adorno sobre a
industria cultural de 1972.A dicotomia entre cultura superior e inferior
estabelecida por essa escola é problemática devendo der substituída por um
modelo que tome a cultura como aspecto e aplique semelhantes métodos críticos e
todas produções culturais que vão desde a ópera até a música popular. Os
estudos culturais e a teoria crítica da Escola de Frankfurt desenvolveram
modelos teóricos do relacionamento entre a economia, o Estado, a sociedade, a
cultura e a vida diária fomentada pelas problemáticas das teorias sociais contemporâneas.
Segundo John Fiskesugere o termo “popular” provém do povo.,conhecida como
cultura que vem de cima para baixo.
Quanto aos
estudos culturais pós-modernos, alguns teóricos como Denzin (1991) e Grossberg (1992)
vinculam os estudos culturais à vertente pós-moderna. Esse termo é usado para
abarcar uma diversidade de produtos culturais, fenômenos sociais e discursos
teóricos. O uso do termo pós-moderno serve para nossa sociedade contemporânea
como sinônimo. Hebdige propõe unir algumas novas perspectivas pós-modernas ao
programa neogramisciano mais antigo, isto é,consiste em ligar os estudos
culturais ao projeto de mudanças sociais e culturais radicais para novas lutas
e novas transformações progressista.
Entretanto, os estudos culturais
estão no campo novo e aberto, no processo de construção e reconstrução, as
intervenções devem apenas criar novas perspectivas ou análises e não
fechamentos teóricos. As teorias feministas e multiculturalistas de raça,
etnia, nacionalidade, subalternidade e preferência sexual ganham espaço neste
panorama contemporâneo. Já a ideologia e a cultura da mídia e os métodos
críticos podemos mencionar Marx e Engels caracterizaram a ideologia como ideias
da classe dominante que obtêm predominância em determinada era histórica. Este
conceito foi usado para atacar ideias que legitimavam a hegemonia da classe
dominante. Fazer crítica da ideologia implica criticar ideologias sexistas,
racista tanto quanto a ideologia da classe burguesa capitalista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e
política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. (pp. 9-74).